O tempo é úmido às oito da manhã, eu sinto frio, e o inverno ainda é brando. O sol é tímido, se entremeia pelas nuvens e lança pequenos raios de sol no cimento.
Não é cheio, há muitas pessoas, claro. Mas não é sufocante. Embora eu sempre ache que estou sendo enforcada. Talvez eu devesse afrouxar o cachecol.
As pessoas são estranhas, algumas das muitas, pelo menos. Há rostos que eu vejo todos os dias, familiares o suficiente para me deixar desconfortável. Precisamos nos encarar?
Meu mundo é o ponteiro do relógio, é o eco de minha vida. Eu o olho constantemente, como se ele pudesse me dizer o que fazer. Na maioria das vezes apenas desejo que ele congele. Congele e eu possa respirar.
A segunda parada é sempre uma incógnita, tem pessoas demais. Opções demais e eu sempre fico com nenhuma, dou liberdade aos meus pés, cansados e esfolados, mas eu aprecio o vento e minha liberdade, que, diga-se de passagem, é azul neste pequeno sopro do que eu chamo de sossego.
O ar ainda é úmido e o tempo ainda é frio. E eu congelo.
O portão, do qual coloração e formato prefiro manter no anonimato, é o meu portal para a outra dimensão. Pondero sobre isso, conto até 1.5, e entro.
O ar não é mais gelado, e o cheiro é sempre o mesmo. Força. Eu preciso respirar. Mas não há mais espaço para isso, nenhuma janela está aberta o suficiente.
Me enterro, literalmente e poeticamente em intermináveis pastas, é um mar de papel pardo e histórias tristes. E eu sou o farol, sou eu quem procura e quem encontra. Não há mais ninguém aqui para isso.
E posso fazer tudo errado em um milésimo de segundo.
A liberdade que experimento junto às calçadas é bem sagaz, sua cor é amarela. É questionável também, como um cão que consegue passear com o dono sem a coleira.
O sol é escasso, às vezes ele brilha, outras vezes não. Eu o vejo de vez em quando.
Elas me dizem coisas, sem nunca parar, uma sobre a outra. E elas entorpecem minha mente e os meus poros. A cor dessa "desliberdade", peço perdão pelo neologismo, é vermelha e se espalha pelo meu pescoço.
Ás vezes eu tenho calor, mesmo no inverno. É de praxe sentir calor quando você está no inferno, mas eu não estou lá. É muito longe, e eu já andei demais.
Quando a cacofonia da vida noturna universitária me chama, deixo os faróis dos carros me cegarem, eles passam rápido do meu lado, um tiro em minha testa.
E eu queria dizer-lhes que não sou ninguém além de mim mesma, e que, pouco importa quem veio antes e quem virá depois. Se eu faço, faço como sei, e faço por mim mesma.
Eu. Espírito desperto, da cor do vento - que não tem cor - porque não engulo seus pré-conceitos e nem sou um número.
Meu coração é roxo, porque eu gosto da cor, e estou apaixonada pelas pequenas coisas quando não estou correndo de mim mesma. Roxo, quando o sol se põe e as cores se misturam.